Assistir ao
filme francês Amor (Amour 2012), vencedor do Oscar de película estrangeira
deste ano é um intenso exercício psicológico. Ás vezes cruel e outras,
verdadeiramente inconveniente. Incomoda.
A história de um casal de idosos que subitamente passa a enfrentar uma doença,
que gradativamente os consome (em diferentes situações) é uma viagem
arrebatadora sobre dois dos principais assuntos que muitos insistem em afastar
de suas vidas: o envelhecimento e a morte.
Não é filme
fácil. Isso por que o diretor Michael Haneke faz de tudo
para tornar a experiência de assisti-lo, em uma avaliação pessoal, sobre nossos
relacionamentos, medos e o próprio fim. Em um filme menor, a direção facilmente
levaria seu expectador a cumplicidade do casal, utilizando de sua simpatia na condução
a história, sem o compromisso de uma profunda reflexão. A pena que pela qual o
expectador seria despertado, já o conduziria a uma posição estabelecida. Ao
abdicar dessa linguagem Haneke conduz a história por sentimentos e temores que
não estão nos personagens, mas em nós mesmos.
Toda a
história do filme se passa unicamente em um apartamento em Paris. O diretor a
todo tempo coloca o expectador como um visitante desta moradia. Sua
interferência na condução das situações é a o mais simples possível. A
consequência são os constantes questionamentos sobre as mais diferentes
situações das quais se encontram os personagens. Esta literal posição não nos
leva aos personagens, mas a nós mesmos. Como se a cada momento nos
perguntássemos: será assim comigo? Com meus pais? Amigos?
Nos minutos
que se seguirão, diversos temores relacionados a velhice serão abordados; do
dia a dia dilacerante daquele que cuida e da pessoa que aos poucos vai
desfalecendo. Da revolta ao se constatar a solidão que nos espera, o medo em
confiar o cuidado a terceiros, da perda das esperanças e da coragem em romper
os rumos dos quais se precedem.
Apesar de tratar
de um tema tão profundo, “Amor”, não pretende em nenhum momento focar na morte.
Irremediavelmente é o espectador quem decide optar por este caminho. O titulo é
a sua melhor constatação. É este sentimento que possibilita todas e as
principais dificuldades que o fim da vida vai apresentar a este casal. O amor também pode ser um ato de coragem.
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